PLANÍCIE

Sou, na verdade, o Lobo da Estepe, como me digo tantas vezes aquele animal extraviado que não encontra abrigo nem na alegria nem alimento num mundo que lhe é estranho e incompreensível

Herman Hesse

sábado, 15 de dezembro de 2012

PROFISSÃO AMOR



                                     






Passam este ano 50 anos sobre a morte de Corrado Feroci (1892-1962), sobre quem já aqui havíamos falado noutra altura. Pouco conhecido entre nós, mas um gigante - daqueles que aparecem de século a século - que foi tudo e em tudo foi genial. Este florentino arrostou todas as incompreensões e até perseguições, sacrificando uma vida intensa de trabalho  pelo amor à arte e à Tailândia, a sua segunda pátria, onde viveu e se naturalizou. Foi Feroci quem introduziu a história da arte, a crítica de arte, o ensaísmo e o ensino académico das belas-artes no país; foi Feroci o pioneiro da arqueologia científica, da museologia e das técnicas de restauro e conservação. Foi, também,escultor, ceramista, decorador, pintor, ilustrador e muralista. Foi, sobretudo, professor, um homem de vida quase espartana que nunca faltou a uma aula e chegava à universidade de bicicleta, mesmo nos dias em que envergava a soberba farda de alto funcionário do Estado.






É notável como pôde um homem só fazer tanto com tão poucos meios - sem bibliotecas, sem arquivos, sem assessores, quase sem orçamento - e como conseguiu deixar tantos discípulos e um sulco tão profundo num país que lhe ficou eternamente grato.

Eu tenho uma explicação; ou antes, duas. O tempo é breve, e se não fazemos aquilo para o qual fomos escolhidos pelo destino, ninguém mais o fará. Depois, o dinheiro e a falsa fama acabam. Só os grandes espíritos vivem para além do seu tempo. Feroci inventou tudo, foi tão convincente que o que sonhou se transformou na Tailândia de hoje. Nos tempos que correm, da plutocracia desvairada, da arte-negócio e das "indústrias culturais", é quase impossível que homens destes surjam. A arte, a cultura e o ensino são aristocráticas por antonomásia. Ai de quem os queira transformar em meras mercadorias. Aqui está o epitáfio da cultura.