Há 130 anos, nascia um dos artistas mais conceituados de sempre:
Pablo Picasso. Pintor, escultor e até poeta, a sua arte versátil e
revolucionária transformou por completo a própria ideia de arte. O
fascínio pela fotografia permitiu que grandes profissionais da época
registassem o seu percurso de vida. Diante da objectiva de uma máquina,
Picasso pousava e sorria como em poucas ocasiões. As imagens de Robert
Capa, Cartier-Bresson, Brassai ou David Duncan espelham as metamorfoses
de um génio em constante insatisfação.
Sobre Picasso já se escreveu quase tudo. Já se fizeram inumeráveis
biografias, já se analisou toda a sua obra. O facto é que a vida
atribulada do pintor espanhol andou sempre de mãos dadas com a arte: a
cada reeinvenção pessoal, uma outra etapa surgia na sua obra. "Eu não procuro, encontro", terá dito. E a cada novo encontro, Picasso vivia uma vida dentro da sua própria vida.
Pintou alguns dos quadros mais famosos de sempre, produziu esculturas
e até escreveu poemas. Ainda assim, Picasso tinha um fascinio especial
pela fotografia. Conviveu durante anos com profissionais da área, que
acabaram por registar vários momentos do seu percurso de vida. Diante da
objectiva da câmara, não hesitava em posar nem tão pouco ser
protagonista de retratos mais intimistas. Robert Capa, por exemplo,
fotografou-o na praia com Françoise Gilot. Já David Duncan "apanhou-o"
na banheira.
Por David Seymour e Robert Capa feita.
A vida sentida na arte
Pablo Picasso nasceu a 25 de Outubro de 1881, em Málaga. A sua veia
artística revelou-se cedo, através do talento natural para o desenho.
Estudou Belas Artes na Corunha, em Barcelona e Madrid. Apesar da breve
estadia na capital espanhola, Picasso descobre a obra de grandes mestres
- Vélasquez, El Greco e Goya - que serviriam de inspiração para muitos
dos seus quadros. Entretanto, visita Paris e regressa a Barcelona
doente. Decide abandonar os estudos, passando a frequentar tertúlias de
grupos de artistas influenciados pela cultura francesa. Em 1900, expõe
pela primeira vez desenhos seus. E um ano depois funda com um amigo, em
Madrid, a revista "Arte Joven". Além de ilustrar (todo) o primeiro
número, deixa de assinar os seus trabalhos como "Pablo Ruiz y Picasso",
para passar a ser simplesmente "Picasso".
A partir de então, a obra de Picasso reinventa-se a cada mudança
pessoal, onde as suas vivências servem de ponto de partida para novos
encontros artísticos. "A grandeza deste indiscutível génio esteve
sobretudo na forma como transformou uma obra de arte num estado de
ânimo, em como a realidade passou a ser sentida pelo espectador e pelo
artista" afirma Paloma Esteban, do Museo Nacional de Arte Reina
Sofia. As suas paixões ( Fernande Olivier, Olga Koklova, Marie- Thérèse
Walter, Dora Maar ou Françoise Gilot), seriam pintadas de forma
distinta, como aliás pode ser lido no artigo "Na arte como na vida".
A sua versatilidade originou ainda várias esculturas, peças de
cerâmica e a escrita de poemas. Eternamente insatisfeito, Picasso não
procurava, no entanto, a perfeição, mas sim superar-se a cada nova
etapa. Talvez por isso, diz-se que vivia constantemente mal-humorado e
que pouco sorria. Só que, perante a objectiva de uma câmara,
entusiasmava-se. Todo aquele equipamento o fascinava, o que permitiu
inúmeros registos fotográficos da sua vida.
O fascínio pela fotografia
David Duncan trabalhou ao lado de Picasso cerca de
vinte anos. Era amigo de Robert Capa, um dos grandes fotógrafos com quem
havia privado. Capa tinha prometido que os apresentaria, mas a sua
morte levou a que Duncan se apresentasse pessoalmente na casa do pintor
em Cannes. Picasso, emocionando-se com a visita e com o anel de ouro que
este lhe ofereceu (onde estavam gravados os seus nomes), convidou-o a
entrar no estúdio. E, claro, na sua intimidade. Duncan fotografou-o como
ninguém: na banheira, a dançar, a pintar e até de cuecas. "Ele
dizia que Duncan era fantástico, porque era tão delicado e discreto que
se esquecia dele. Por não atrapalhar os seus movimentos no atelier,
Picasso permitiu que tirasse fotografias que nunca teria permitido a
nenhum outro fotógrafo" revelou Christine Ruiz-Picasso, sua nora. A amizade entre ambos durou até à morte de Picasso, em 1973.
Brassai conviveu igualmente de perto com Picasso.
Durante a II Guerra Mundial esteve no atelier de Paris a fotografar as
suas esculturas para um livro de arte. Mas o que poderia ter sido apenas
um encontro profissional transformou-se numa grande amizade. Picasso
elogiava a forma como o fotógrafo trabalhava e fazia questão de assistir
às suas secções. Com humor, tratava-o por "terrorista"quando se
assustava com as explosões provocadas pelo pó de magnésio, usado para
iluminar as imagens. Em 1964, Brassai publica "Conversas com Picasso",
revelando entre os diálogos a verdadeira admiração do artista pelas
técnicas da fotografia.
Cartier-Bresson, um dos fundadores do
fotojornalismo, é autor de vários retratos do pintor na década de 40.
Assim como Robert Doisneau, David Seymour (que o registou junto de
"Guernica" por exemplo) ou Man Ray. As imagens deixadas por estes
grandes nomes acompanham o percurso de Picasso, tal como as suas obras.
Uma vida atribulada, mas repleta de talento, que começou há 130 anos e
nos chega até hoje.
Picasso e Françoise Gilot vistos por Robert Doisneau.
A sós, por Man Ray e por Yousuf Karsh.
Este artigo teve como referência os textos, "os fotógrafos de picasso" e "Na arte como na vida".
Diana Ribeiro
© obvious:
http://obviousmag.org/archives/2011/10/os_fotografos_de_picasso.html#ixzz45mtiSWdt
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SIMETRIAS do REVERSO da MEDALHA
É a família ligada à arte mais rica de todo o mundo. Mas a fortuna do pai e do avô tem causado mais desavenças do que encontros
Quando
morreu, em 1973, aos 91 anos, Pablo Picasso não deixou testamento, mas
sim 45 mil obras e um longo e intricado processo de partilhas. O acordo
entre os herdeiros custou perto de 27 milhões de euros e, segundo a
escritora Deborah Trustman, lembrava uma das construções cubistas de
Picasso: "Mulheres, amantes, filhos legítimos e ilegítimos [o filho mais
novo tem menos 28 anos do que o mais velho] e netos - todos amarrados
num eixo como a espinha dorsal de uma figura com peças incomparáveis."
As
contas foram feitas: 1885 quadros, 1228 esculturas, 7089 desenhos, 30
000 impressões, 150 esboços e 3222 trabalhos em cerâmica. E ainda vários
livros ilustrados, peças em cobre e tapeçarias. Dois châteaux e três
casas (Picasso viveu e trabalhou em 20 endereços diferentes entre 1900 e
1973). Segundo a Vanity Fair,
que cita fonte familiar, haveria ainda 4,5 milhões em dinheiro e 1,3
milhões em ouro. E ainda ações e títulos cujo valor nunca foi tornado
público. Em 1980, o valor da fortuna do pintor espanhol estimava-se em
222 milhões de euros, mas o valor atual está na casa dos mil milhões.
Em
1996, Claude Picasso, nomeado administrador legal do património do pai
por um tribunal francês, criou a Picasso Administration, com sede em
Paris, e que gere os interesses dos herdeiros, além de controlar os
direitos sobre as reproduções e exibições da obra de Picasso. Licencia
desde pratos ou canetas, automóveis e gravatas, e trata ainda dos
processos que envolvem peças roubadas e o uso ilegal do nome do pintor.
Durante
a sua vida, Picasso foi um dos artistas mais prolíficos e mais
fotografados. Neste ano, continua a ser o mais reproduzido, mais exibido
e mais pirateado do mundo. Todos querem um bocadinho de Picasso, o que é
sobretudo verdade no que diz respeito aos herdeiros.
Maya
Widmaier-Picasso tem 80 anos e é filha do artista. A mãe foi
Marie-Thérèse Walter, que o pintor conheceu em 1927, quando ela tinha 17
anos e ele 45. Nove anos antes, Picasso casara-se com Olga Khokhlova e
teve um filho com ela: Paulo. Maya vive em Paris, tem três filhos e é
uma das herdeiras sobreviventes da fortuna de Picasso. Aliás, os cinco
herdeiros são todos multimilionários. São eles: além de Maya, Claude e a
irmã, Paloma - filhos de Picasso com a amante Françoise Gilot, a única
mulher que deixou o pintor, e Marina e Bernard, filhos de Paulo, que
morreu em 1975.
Um dos quadros que Maya viu o pai pintar é o Les Femmes d"Alger, que foi
vendido, em 2015, por um valor recorde: 159,177 milhões de euros, o que
deixou os cinco herdeiros ainda mais ricos. Mas onde há dinheiro, há
drama.
Em janeiro, Maya aparece no
epicentro de uma polémica. Em causa, o busto de Marie-Thérèse Walter,
datado de 1931, e a peça-chave da recente exposição Esculturas de
Picasso do Museu de Arte Moderna. A peça, chamada Busto de Uma Mulher,
foi vendida em simultâneo por representantes de Maya a dois compradores:
a primeira, em novembro de 2014, ao xeque Jassim bin Abdulaziz
al-Thani, marido de Al-Mayassa bint Hamad bin Khalifa al-Thani, irmã do
emir do Qatar e chairwoman do Qatar Museum, que, segundo a Forbes, é a "rainha inquestionável da arte mundial".
O
busto terá sido vendido por cerca de 37 milhões de euros. Mas um outro
comprador - Gagosian - afirma que adquiriu a mesma peça por 94 milhões
de euros. Tribunais nos Estados Unidos, Suíça e França estão a tentar
decidir quem será o real dono da peça.
Em
2012, quatro dos herdeiros, à exceção de Maya, anunciaram, através de
uma carta posta a circular na internet, a criação de um novo
procedimento para autenticar peças de Picasso. Só a opinião de Claude
seria "oficialmente reconhecida" pelos assinantes do documento. Maya
contou, mais tarde, que só soube da existência da carta - e do acordo -
quando um amigo lhe contou a novidade. "Quase morri", terá dito. A
guerra continua.