PLANÍCIE

Sou, na verdade, o Lobo da Estepe, como me digo tantas vezes aquele animal extraviado que não encontra abrigo nem na alegria nem alimento num mundo que lhe é estranho e incompreensível

Herman Hesse

terça-feira, 19 de abril de 2016

SEQUÊNCIAS EM




CONVERSAS CRUZADAS...






COMO deve ser,,, BOM TER.



TER -uma FLOR que nos encante, um SILÊNCIO que se transforme em BRILHO.
Uma provocação que termine em desafio - (CONCRETIZADO).
Um SABOR que nunca amargue.
Uma VONTADE que perdure enfeitada, pelos SABERES.




E HA-VER.

MUITAS CERTEZAS para guardar e deitar fora.



 CRUZES
&

CONVERSAS CRUZADAS
EM DIA do PENALVA

Tá-me a chegar a inspiração...penso eu...
Pode ser que o inspire...penso eu.





 Livro enganado foi trocado e o discurso inventado.
POR aqui se vai a NOITE como a tarde e o DIA.

Umas vezes melhor outras PIOR.
Sem LIVRO "HAVIDO" discurso de assuntos CRUZADOS INVENTADOS e BANALIZADOS.
Se não existissem ,,,"ESCULPIA-OS"-OS numa BARRA de SABÃO...para ÁGUA LAVAR.




PENSAMENTOS:




PENSO RÁPIDO...já FOI!


2
Pão de LÓ INTEIRO...
bolo prazenteiro
Pão de ló repartido...
bolo fingido.
pão de ló que sobra?
é obra!

3
Comida demorada...
promessa adiada!


1-jorge Penalva
2-Manuel cardoso
3- Manuel o CHICO!

PAIXÃO




PRÓ que LHA VIA
de DAR
PAI
CHÃO
PROJENITOR
TERRA------------------------

DOR
AMOR
DOR
SOFRIMENTO
SIMÉTRICAS
ARITMÉTICAS
ANTAGÓNICAS
ANTONÉTICAS
DOR
AMOR
CONTRADIÇÕES
CONTRADITÓRIAS
ANTAGONISMOS
COMPLICATÓRIAS


     ENFIM...
Aguardente velha a começar
a DESTILAR...





 




A...PELOS


Ó PENALVA, PENALVA
não sejas...marialva!

Ó Cardoso, Cardoso
não sejas...VAIDOSO!

Ó Olegário, Olegário
não sejas ...Otário!

Ó Helder Januário
não IMITES...o Olegário!


Ó Rui Caldeira
porta-te à maneira!

Ó Manel Francisco
não sejas...ARISCO!

Ó Manuel Hipólito
não sejas ACÓLICO!




O Manuel Lei
não queiras...ser REI!

Ó Álvaro Espadanal
não sejas...BANAL!

Ó ZÉ, ó ZÉ
parece que estás a ficar CHÉCHÉ!

Ó MALTA!!!
Ó MALTA!!







 ...nunca esqueças
do que nos FAZ FALTA!!





A CÁBULA esquecida, tive que inventar
Mas,,,
 as conversas CRUZADAS.
 A calhar VIERAM. 



No DIA do ÍNDIO.


quinta-feira, 14 de abril de 2016

Os fotógrafos que retrataram picasso



Há 130 anos, nascia um dos artistas mais conceituados de sempre: Pablo Picasso. Pintor, escultor e até poeta, a sua arte versátil e revolucionária transformou por completo a própria ideia de arte. O fascínio pela fotografia permitiu que grandes profissionais da época registassem o seu percurso de vida. Diante da objectiva de uma máquina, Picasso pousava e sorria como em poucas ocasiões. As imagens de Robert Capa, Cartier-Bresson, Brassai ou David Duncan espelham as metamorfoses de um génio em constante insatisfação.

picasso_20111025_bo_01A.jpg


Sobre Picasso já se escreveu quase tudo. Já se fizeram inumeráveis biografias, já se analisou toda a sua obra. O facto é que a vida atribulada do pintor espanhol andou sempre de mãos dadas com a arte: a cada reeinvenção pessoal, uma outra etapa surgia na sua obra. "Eu não procuro, encontro", terá dito. E a cada novo encontro, Picasso vivia uma vida dentro da sua própria vida.
Pintou alguns dos quadros mais famosos de sempre, produziu esculturas e até escreveu poemas. Ainda assim, Picasso tinha um fascinio especial pela fotografia. Conviveu durante anos com profissionais da área, que acabaram por registar vários momentos do seu percurso de vida. Diante da objectiva da câmara, não hesitava em posar nem tão pouco ser protagonista de retratos mais intimistas. Robert Capa, por exemplo, fotografou-o na praia com Françoise Gilot. Já David Duncan "apanhou-o" na banheira.



picasso_robert_capa_20111025_bo_02.jpg Por David Seymour e Robert Capa feita.


A vida sentida na arte Pablo Picasso nasceu a 25 de Outubro de 1881, em Málaga. A sua veia artística revelou-se cedo, através do talento natural para o desenho. Estudou Belas Artes na Corunha, em Barcelona e Madrid. Apesar da breve estadia na capital espanhola, Picasso descobre a obra de grandes mestres - Vélasquez, El Greco e Goya - que serviriam de inspiração para muitos dos seus quadros. Entretanto, visita Paris e regressa a Barcelona doente. Decide abandonar os estudos, passando a frequentar tertúlias de grupos de artistas influenciados pela cultura francesa. Em 1900, expõe pela primeira vez desenhos seus. E um ano depois funda com um amigo, em Madrid, a revista "Arte Joven". Além de ilustrar (todo) o primeiro número, deixa de assinar os seus trabalhos como "Pablo Ruiz y Picasso", para passar a ser simplesmente "Picasso".
A partir de então, a obra de Picasso reinventa-se a cada mudança pessoal, onde as suas vivências servem de ponto de partida para novos encontros artísticos. "A grandeza deste indiscutível génio esteve sobretudo na forma como transformou uma obra de arte num estado de ânimo, em como a realidade passou a ser sentida pelo espectador e pelo artista" afirma Paloma Esteban, do Museo Nacional de Arte Reina Sofia. As suas paixões ( Fernande Olivier, Olga Koklova, Marie- Thérèse Walter, Dora Maar ou Françoise Gilot), seriam pintadas de forma distinta, como aliás pode ser lido no artigo "Na arte como na vida".
A sua versatilidade originou ainda várias esculturas, peças de cerâmica e a escrita de poemas. Eternamente insatisfeito, Picasso não procurava, no entanto, a perfeição, mas sim superar-se a cada nova etapa. Talvez por isso, diz-se que vivia constantemente mal-humorado e que pouco sorria. Só que, perante a objectiva de uma câmara, entusiasmava-se. Todo aquele equipamento o fascinava, o que permitiu inúmeros registos fotográficos da sua vida.
O fascínio pela fotografia David Duncan trabalhou ao lado de Picasso cerca de vinte anos. Era amigo de Robert Capa, um dos grandes fotógrafos com quem havia privado. Capa tinha prometido que os apresentaria, mas a sua morte levou a que Duncan se apresentasse pessoalmente na casa do pintor em Cannes. Picasso, emocionando-se com a visita e com o anel de ouro que este lhe ofereceu (onde estavam gravados os seus nomes), convidou-o a entrar no estúdio. E, claro, na sua intimidade. Duncan fotografou-o como ninguém: na banheira, a dançar, a pintar e até de cuecas. "Ele dizia que Duncan era fantástico, porque era tão delicado e discreto que se esquecia dele. Por não atrapalhar os seus movimentos no atelier, Picasso permitiu que tirasse fotografias que nunca teria permitido a nenhum outro fotógrafo" revelou Christine Ruiz-Picasso, sua nora. A amizade entre ambos durou até à morte de Picasso, em 1973.
Brassai conviveu igualmente de perto com Picasso. Durante a II Guerra Mundial esteve no atelier de Paris a fotografar as suas esculturas para um livro de arte. Mas o que poderia ter sido apenas um encontro profissional transformou-se numa grande amizade. Picasso elogiava a forma como o fotógrafo trabalhava e fazia questão de assistir às suas secções. Com humor, tratava-o por "terrorista"quando se assustava com as explosões provocadas pelo pó de magnésio, usado para iluminar as imagens. Em 1964, Brassai publica "Conversas com Picasso", revelando entre os diálogos a verdadeira admiração do artista pelas técnicas da fotografia.
Cartier-Bresson, um dos fundadores do fotojornalismo, é autor de vários retratos do pintor na década de 40. Assim como Robert Doisneau, David Seymour (que o registou junto de "Guernica" por exemplo) ou Man Ray. As imagens deixadas por estes grandes nomes acompanham o percurso de Picasso, tal como as suas obras. Uma vida atribulada, mas repleta de talento, que começou há 130 anos e nos chega até hoje.




picasso_20111025_bo_07.jpg Picasso e Françoise Gilot vistos por Robert Doisneau.
picasso_20111025_bo_08.jpg A sós, por Man Ray e por Yousuf Karsh.
Este artigo teve como referência os textos, "os fotógrafos de picasso" e "Na arte como na vida".


 


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SIMETRIAS do REVERSO da MEDALHA


É a família ligada à arte mais rica de todo o mundo. Mas a fortuna do pai e do avô tem causado mais desavenças do que encontros
Quando morreu, em 1973, aos 91 anos, Pablo Picasso não deixou testamento, mas sim 45 mil obras e um longo e intricado processo de partilhas. O acordo entre os herdeiros custou perto de 27 milhões de euros e, segundo a escritora Deborah Trustman, lembrava uma das construções cubistas de Picasso: "Mulheres, amantes, filhos legítimos e ilegítimos [o filho mais novo tem menos 28 anos do que o mais velho] e netos - todos amarrados num eixo como a espinha dorsal de uma figura com peças incomparáveis."
As contas foram feitas: 1885 quadros, 1228 esculturas, 7089 desenhos, 30 000 impressões, 150 esboços e 3222 trabalhos em cerâmica. E ainda vários livros ilustrados, peças em cobre e tapeçarias. Dois châteaux e três casas (Picasso viveu e trabalhou em 20 endereços diferentes entre 1900 e 1973). Segundo a Vanity Fair, que cita fonte familiar, haveria ainda 4,5 milhões em dinheiro e 1,3 milhões em ouro. E ainda ações e títulos cujo valor nunca foi tornado público. Em 1980, o valor da fortuna do pintor espanhol estimava-se em 222 milhões de euros, mas o valor atual está na casa dos mil milhões.
Em 1996, Claude Picasso, nomeado administrador legal do património do pai por um tribunal francês, criou a Picasso Administration, com sede em Paris, e que gere os interesses dos herdeiros, além de controlar os direitos sobre as reproduções e exibições da obra de Picasso. Licencia desde pratos ou canetas, automóveis e gravatas, e trata ainda dos processos que envolvem peças roubadas e o uso ilegal do nome do pintor.
Durante a sua vida, Picasso foi um dos artistas mais prolíficos e mais fotografados. Neste ano, continua a ser o mais reproduzido, mais exibido e mais pirateado do mundo. Todos querem um bocadinho de Picasso, o que é sobretudo verdade no que diz respeito aos herdeiros.
Maya Widmaier-Picasso tem 80 anos e é filha do artista. A mãe foi Marie-Thérèse Walter, que o pintor conheceu em 1927, quando ela tinha 17 anos e ele 45. Nove anos antes, Picasso casara-se com Olga Khokhlova e teve um filho com ela: Paulo. Maya vive em Paris, tem três filhos e é uma das herdeiras sobreviventes da fortuna de Picasso. Aliás, os cinco herdeiros são todos multimilionários. São eles: além de Maya, Claude e a irmã, Paloma - filhos de Picasso com a amante Françoise Gilot, a única mulher que deixou o pintor, e Marina e Bernard, filhos de Paulo, que morreu em 1975.
Um dos quadros que Maya viu o pai pintar é o Les Femmes d"Alger, que foi vendido, em 2015, por um valor recorde: 159,177 milhões de euros, o que deixou os cinco herdeiros ainda mais ricos. Mas onde há dinheiro, há drama.
Em janeiro, Maya aparece no epicentro de uma polémica. Em causa, o busto de Marie-Thérèse Walter, datado de 1931, e a peça-chave da recente exposição Esculturas de Picasso do Museu de Arte Moderna. A peça, chamada Busto de Uma Mulher, foi vendida em simultâneo por representantes de Maya a dois compradores: a primeira, em novembro de 2014, ao xeque Jassim bin Abdulaziz al-Thani, marido de Al-Mayassa bint Hamad bin Khalifa al-Thani, irmã do emir do Qatar e chairwoman do Qatar Museum, que, segundo a Forbes, é a "rainha inquestionável da arte mundial".
O busto terá sido vendido por cerca de 37 milhões de euros. Mas um outro comprador - Gagosian - afirma que adquiriu a mesma peça por 94 milhões de euros. Tribunais nos Estados Unidos, Suíça e França estão a tentar decidir quem será o real dono da peça.
Em 2012, quatro dos herdeiros, à exceção de Maya, anunciaram, através de uma carta posta a circular na internet, a criação de um novo procedimento para autenticar peças de Picasso. Só a opinião de Claude seria "oficialmente reconhecida" pelos assinantes do documento. Maya contou, mais tarde, que só soube da existência da carta - e do acordo - quando um amigo lhe contou a novidade. "Quase morri", terá dito. A guerra continua.


Hypatia: uma cientista num mundo de homens




Uma mulher sobredotada numa época em que os homens, em nome do fanatismo religioso, estavam mais preocupados em esfaquear e apedrejar até à morte os descrentes e em sujeitar as mulheres à total submissão, é algo que tem os seus dissabores e perigos mortais.



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Escola de Atenas: famoso fresco do pintor renascentista Rafael. A cena pode ser vista numa das bibliotecas do Vaticano e nela encontra-se Hypatia, de pé e vestida de branco, a olhar directamente, com altivez, para quem a visiona. Mais acima, Sócrates e Platão “entram” em cena.
A vida de Hypatia é digna de um filme, pelo que não foi de admirar que em 2009 este acabasse por chegar ao grande ecrã, através da super-produção “Ágora”. Uma excelente obra cinematográfica que, apesar de tudo, muito deixa por contar, ou então cai no velho pecado de exagerar os feitos da heroína. Fiquemo-nos, assim sendo, pelo que se conta nos velhos e poeirentos livros de história.


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No longínquo ano de 355 (ou talvez 370, não existem certezas), nasceu na cidade de Alexandria a notável Hypatia. Filha de Téon, professor e último director da Biblioteca de Alexandria, foi educada por este para se tornar no protótipo da perfeição e da virtuosidade. Ou seja, aquilo que os homens de Alexandria não eram capazes de ser.
Mas a ascensão desta mulher prodígio chocava contra os preconceitos dos pais fundadores da filosofia racional helenística, dos quais era intelectualmente herdeira. Enquanto Platão, na sua máscula soberba, defendia que “a mulher, em relação à virtude, é naturalmente inferior ao homem”, Sócrates fazia render o poder do seu falo e afirmava que “a coragem do homem revela-se no comando, e a da mulher na obediência.”
Todavia, e fazendo gato-sapato desta verborreia machista, Hypatia acabou por exceder tudo e todos e tornar-se, na sua época, num dos nomes mais respeitados da matemática, astronomia e filosofia.


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Entre os seus feitos incluem-se o aperfeiçoamento do astrolábio – um instrumento que mil anos depois ajudaria os portugueses a conquistar o globo pelos mares –, assim como um conjunto de textos nos quais explica, com extraordinária simplicidade, algumas das grandes (e complexas) ideias científicas e filosóficas do classicismo helénico. Para esta mulher, o conhecimento devia ser acessível a todos.
Dotada de uma oratória capaz de provocar dor de cotovelo a Winston Churchill, tornou-se professora de muitos jovens oriundos de famílias abastadas, e tal era o seu carisma que um dos pupilos apaixonou-se por ela, declarando-se-lhe com pompa e circunstância. A resposta de Hypatia a esta gesta de amor até faria congelar o coração a Don Juan: atirou-lhe um lenço manchado com o sangue da sua menstruação e perguntou-lhe se era aquilo que ele queria desposar. Ascética e virgem, renunciaria até ao fim da sua vida a qualquer prazer carnal. O seu corpo deveria ser, portanto, da sua exclusiva propriedade.
Com o passar dos anos, os seus alunos tornaram-se nos homens mais poderosos de Alexandria. Um forte testemunho da influência que ainda detinha sobre estes era o facto de os magistrados da cidade recorrerem ao seu aconselhamento antes de tomarem qualquer decisão importante. Em pleno século IV, uma mulher ter tanto poder nas mãos era único.
Ignorância, fanatismo, crime e vingança
Mas os tempos eram perigosos e o ambiente social, político e religioso era demasiado volátil. Alexandria estava a tornar-se num fervilhante caldeirão de intolerância entre cristãos, judeus e devotos do politeísmo. Os distúrbios e massacres por motivos religiosos eram o pão-nosso de cada dia, com as tradições helenísticas a entrar em franca decadência. Aproveitando o caos, uma nova força começou a ganhar cada vez mais poder: o cristianismo.


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Depois de ter enfrentado o machismo legado pelos pesos pesados da filosofia clássica, chegava a vez de Hypatia ter que lidar com a misoginia dos santos teólogos da igreja cristã. O próprio São Paulo, numa das suas epístolas, protestava: “não permito que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre os homens, mas que esteja em silêncio.” Prevendo dias difíceis, Hypatia decide arregaçar as mangas e usar a sua influência para combater o crescente poder dos intolerantes cristãos.
Muitas vezes violentos e invariavelmente adversos a que uma mulher lhes dissesse as verdades sem papas na língua, os cristãos de Alexandria eram liderados pelo patriarca Cirilo. Este tentava submeter à sua autoridade o prefeito de Alexandria, Orestes, um antigo aluno de Hypatia que continuava a estar sob a sua influência. Aliás, um dos mexericos correntes da época tagarelava que os dois seriam amantes.
O facto de o chefe político da cidade não se submeter às ordens de Deus tinha assim, para Cirilo, uma culpada: Hypatia. Ressabiado com a audácia de uma pagã que não tinha papas na língua, o patriarca decide fomentar os mais mesquinhos boatos para a afastar do seu caminho rumo ao poder.
Acusada em praça pública de ir contra os costumes morais daquilo que devia ser uma boa mulher temente a Deus, a cientista e filósofa foi igualmente acusada de ser uma bruxa, uma consequência infeliz de se ter profundos conhecimentos de astronomia e matemática numa época em que a ignorância grassava como se fosse a peste negra. Eis como acabou por tornar-se num alvo a abater pela turba dos fundamentalistas.
A tragédia é inevitável. Enquanto Hypatia circulava de carruagem pela cidade, uma milícia de fanáticos cristãos captura-a, arrastando-a pelo chão poeirento até uma das suas igrejas. No interior do santuário, a cientista é despida por mãos furiosas e cruelmente apedrejada até à morte. Insatisfeitos com a barbaridade, esfolam-na com lascas de vasos de cerâmica, arrancam-lhe os membros e lançam os seus pedaços a uma fogueira. Um fim pouco nobre que nem o cinema ousou revelar.
Orestes, vendo-se desamparado, foge da cidade. Cirilo, por sua vez, consegue submeter os políticos de Alexandria à sua vontade. Apesar de sempre ter negado qualquer responsabilidade na chacina de Hypatia, a verdade é que existe tudo para duvidar do lavar de mãos de uma personagem que acabou por ser santificada pela igreja católica.
A morte de Hypatia, em 415, acabou por marcar o fim de uma era de racionalidade e conhecimento e a entrada na chamada “idade das trevas”. A ciência iria emudecer até ao Renascimento e a voz emancipada das mulheres por muito mais tempo.
Todavia, no século XVI, o pintor renascentista Rafael decidiu vingar o seu assassínio de forma bem peculiar. Enquanto ornamentava o tecto da sumptuosa biblioteca pessoal do Papa Júlio II, o mestre de Florença ousa pintar um fresco no qual Hypatia surge em posição central, por baixo das figuras de Platão e Aristóteles. Como seria de prever, o Sumo Pontífice odiou a ideia e proibiu que a imagem aparecesse.
No entanto, Rafael desobedeceu. Sorrateiramente, introduziu Hypatia na pintura, disfarçando-a noutra personagem. No fim, o destinou tornou-se em ironia, pois apesar ter sido condenada à morte por um patriarca cristão, a sua imagem observa até hoje, com um olhar directo e altivo, os líderes da igreja católica.


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