Esta casa virada a NORTE
ONDE não entra o SOL
Os ANIMAIS SIM!!...
Porque és tão teimoso rapaz, porque
continuas a acreditar, que o SOL pode mudar de trajectória. Esta casa
virada a NORTE, faz-me lembrar a história de PLATERO, conheci esta
personagem num tempo distante, muito distante dos dias de HOJE. Sonhava e
construía sonhos-esboçava projectos, caminhava em passo de marcha,
ladeado ombro a ombro com o outro que era Eu também.
Sempre que recordo PLATERO, apetece cantar o nome de JUAN RAMÓN JIMÉNEZ...são indissociáveis.
No primeiro capítulo, o poeta Juan Ramón Jiménez descreve assim o protagonista:
“Platero é pequeno, peludo, suave; tão macio por fora, que parece todo de algodão, parece não ter ossos.” (2010: p. 5)
Vejamos a imagem: “Parece todo de algodão...” Será que existe algo mais fofinho do que algodão em pluma? E a reiteração: “parece não ter ossos” confirma a maciez do pelo de Platero.
O que mais enternece o leitor é o carinho devotado a Platero e a conversa que o narrador mantém com o seu amigo.
Em todo o decorrer da narrativa, Platero é tratado como um ser dotado de sentimentos próprios do homem .
“Platero é pequeno, peludo, suave; tão macio por fora, que parece todo de algodão, parece não ter ossos.” (2010: p. 5)
Vejamos a imagem: “Parece todo de algodão...” Será que existe algo mais fofinho do que algodão em pluma? E a reiteração: “parece não ter ossos” confirma a maciez do pelo de Platero.
O que mais enternece o leitor é o carinho devotado a Platero e a conversa que o narrador mantém com o seu amigo.
Em todo o decorrer da narrativa, Platero é tratado como um ser dotado de sentimentos próprios do homem .
Ainda hoje o vejo, de lombada simples no quarto de estudante da RESIDÊNCIA UNIVERSITÁRIA.
“(A noite desce, e a lua brilha lá no fundo, engrinaldada de estrelas andarengas. Silêncio! Pelos caminhos, a vida, a vida se dilui na distância. Do poço escapa a alma das profundezas. Por ele se vê como que o outro lado do poente. E parece que de seu bojo vai sair o gigante da noite, senhor de todos os enigmas do mundo. Ó labirinto fantástico e silente, umbroso e perfumado parque, salão mágico e encantado!)
– Platero, se um dia eu me jogar neste poço, não será
para matar-me, podes estar certo, mas sim para apanhar mais depressa as
estrelas”.
Juan Ramón Jiménez – Trecho de “O Poço”, da obra “Platero e Eu”.
É desta forma que penso em ti
MAMEDE, hoje, 24 horas depois da tua partida, amanheceu azul, SOL forte
como tu gostavas para renasceres dos frios das NOITES. De sangue gelado,
pele igualmente gelada, pálpebras cerradas (PEDRA de GELO do
congelador, dura e inerte),corpo contra a parede branca onde o brilho do
REI era mais intenso,,, aquecias-te e voltavas VIVA , renascida.
Corrias a meu lado pernas altas, peito em frente. Abanava a cabeça,
murmurando entre rasgado sorriso.
-Pareces mesmo o FERNANDO MAMEDE! ELEGANTE como um galgo.
Tantos anos estiveste por perto.HUMMMM!... de olhar expectante e dedo no LÁBIO.
HUMMM!!QUANTO VIVE uma GALINHA??
HUMMM!!QUANTO VIVE uma GALINHA??
PERDI-LHE a conta. Talvez sete oito ou mais ou menos, não sei.
Teimosa, persistente foste sempre. Cobria-te de noite, com uma saia de fazenda, no teu ninho aconchegante.
Como os nobres elefantes, TRÊS dias antes de ontem afastaste-te para morreres. Tinha chegado o momento, idêntico a outros que já vivi por estas bandas.
MAMEDE, foste corredora e modelo de
artistas, libertaste-me sorrisos, quando de uma forma aguerrida
enfrentavas o BUSTER , numa correria desenfreada para lhe bicares, uma
galinha sem MEDO (...de cães). Entravas pela cozinha sem autorização,
mas entravas , passeando em redor da mesa.
Só a minha loucura se sobrepõe ao teu génio. É de maluco, fazer de uma GALINHA PESSOA quase uma heroína,,,JANE D´ARC. Ninguém vai entender...porque se ama uma galinha, outros, afincam o dente.
Só a minha loucura se sobrepõe ao teu génio. É de maluco, fazer de uma GALINHA PESSOA quase uma heroína,,,JANE D´ARC. Ninguém vai entender...porque se ama uma galinha, outros, afincam o dente.
Ontem pela manhã em terra macia ladeada pela TARECA e o PÂNICO, enrolada na saia de fazenda da minha MÃE, deixei-te no lugar de descanso, longe dos dentes da RAPOSA matreira, o destino de todas as aves mortas pelo tempo na QUINTINHA.
Tinha-te prometido MAMEDE, o DIREITO ao respeito das PESSOAS, e assim o fiz...obrigado GALINHA poedeira pelada.
Morreste de velha...
Nesta casa VIRADA a NORTE, trocada
com a luz, passam as estações os caminhos de lado -observo os
HUMANOS-troco as palavras-persisto nos AFECTOS.
Do NORTE vem um frio de rachar e as PESSOAS não têm tempo, distraídas... minguadas, cansadas e FRIAS.
Espero a chegada da PRIMAVERA, depois do INVERNO.
SEMEIA AFECTOS colherás FLORES do AMOR.
Não há nada nem valores, que valham um coração BOM...MAS do NORTE vem FRIO e TEMPESTADE...
Descansa Mamede, até que DEUS QUEIRA... eu tentarei esquecer.
Ir-me-ei embora. E ficarão os pássaros
Cantando.
E ficará o meu jardim com sua árvore verde
E o seu poço branco.
Cantando.
E ficará o meu jardim com sua árvore verde
E o seu poço branco.
Todas as tardes o céu será azul e plácido,
E tocarão, como esta tarde estão tocando,
Os sinos do campanário.
E tocarão, como esta tarde estão tocando,
Os sinos do campanário.
Morrerão os que me amaram
E a aldeia se renovará todos os anos.
E longe do bulício distinto, surdo, raro
Do domingo acabado,
Da diligência das cinco, das sestas do banho,
No recanto secreto de meu jardim florido e caiado
Meu espírito de hoje errará nostálgico…
E ir-me-ei embora, e serei outro, sem lar, sem árvore
Verde, sem poço branco,
Sem céu azul e plácido…
E os pássaros ficarão cantando.
[ Juan Ramón Jiménez ]
E a aldeia se renovará todos os anos.
E longe do bulício distinto, surdo, raro
Do domingo acabado,
Da diligência das cinco, das sestas do banho,
No recanto secreto de meu jardim florido e caiado
Meu espírito de hoje errará nostálgico…
E ir-me-ei embora, e serei outro, sem lar, sem árvore
Verde, sem poço branco,
Sem céu azul e plácido…
E os pássaros ficarão cantando.
[ Juan Ramón Jiménez ]
A infância é medida pelos sons, aromas e paisagens, antes de surgir a hora sombria da razão. (John Betjeman – Epílogo)
"Apesar da idade, não me acostumar à vida. Vivê-la até ao derradeiro suspiro de credo na boca. Sempre pela primeira vez, com a mesma apetência, o mesmo espanto, a mesma aflição. Não consentir que ela se banalize nos sentidos e no entendimento. Esquecer em cada poente o do dia anterior. Saborear os frutos do quotidiano sem ter o gosto deles na memória. Nascer todas as manhãs."
ResponderEliminarMiguel Torga, in "Diário (1982)"